Histórias não contadas: Mulheres usuárias de drogas que perderam a guarda dos filhos recém nascidos

Autores/as

DOI:

https://doi.org/10.47208/sd.v27i3.3054

Palabras clave:

Acolhimento Institucional. Maternidade. Drogas Ilícitas

Resumen

Este artigo mostra que a determinação judicial de acolhimento de recém-nascidos de mulheres usuárias de drogas se dá por influência de ideologias conservadoras que historicamente orientam a intervenção do Estado brasileiro sobre famílias pobres. Trata-se de pesquisa documental que traçou o perfil de 15 mulheres-mães usuárias de drogas, referenciadas em Vitória, que tiveram os recém-nascidos acolhidos entre os anos de 2008 e 2017. São mulheres pobres, negras, fortemente subjugadas ao padrão ideal de boa mãe, ao qual elas não correspondem. Mostramos ainda que apesar de transitarem nos serviços de Saúde e Assistência Social do Município, a maioria das mulheres nunca recebeu acompanhamento sistemático. A retirada dos bebês de suas famílias, ainda que sob o discurso de proteção da criança, funciona como mecanismo de punição à mulher, não só pelo uso de drogas, mas também por sua precária condição de existência, que o Estado deveria, mas não provê.

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Biografía del autor/a

Gediane Laurett Neves Rangel, UFES

Mestre em Política Social pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Assistente Social no Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes (EBSERH/HUCAM/UFES).

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Publicado

2021-12-30

Cómo citar

Laurett Neves Rangel, G. (2021). Histórias não contadas: Mulheres usuárias de drogas que perderam a guarda dos filhos recém nascidos. Sociedade Em Debate, 27(3), 167-181. https://doi.org/10.47208/sd.v27i3.3054