Gravidez na adolescência: educação sexual e produção de subjetividades
DOI:
https://doi.org/10.47208/sd.v27i2.2797Palavras-chave:
Gravidez na adolescência, Educação sexual, Subjetividade, Projeto de vida, Empreendedorismo de siResumo
Este artigo analisa os materiais do Projeto Saúde e Prevenção das Escolas (SPE) sobre gravidez na adolescência, identificando quais discursos o atravessam e que efeitos de subjetivação busca produzir. O SPE trata-se de uma iniciativa dos Ministérios da Educação e da Saúde, que busca promover a educação sexual nas escolas. A partir de uma perspectiva teórico-metodológica da análise do discurso inspirada em Michel Foucault, consideramos a articulação entre discurso, poder e subjetividades. O Projeto preocupa-se com o projeto de vida, planos de futuro e planejamento familiar, enfatizando o impacto da gestação e criação dos filhos na vida escolar e profissional da mãe adolescente. Os estudos sobre o empreendedorismo de si apontam que vivemos sob uma governamentalidade neoliberal, onde cada um é convocado a tratar a si mesmo como uma empresa. A vivência da gravidez na adolescência conflita com a conjuntura capitalista atual que busca sujeitos adaptáveis, flexíveis e polivalentes. Observou-se que a gravidez na adolescência parece não estar eminentemente ligada, nos discursos do SPE, a um discurso moralista ou mesmo médico. A questão possui um cunho mais econômico, uma vez que parece querer produzir um sujeito adolescente assíduo na escola, preocupado com a sua estabilidade financeira e familiar e atento ao seu futuro.
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