Discursos da elite branca local sobre raça e políticas de reparação em duas cidades no interior do Nordeste
DOI:
https://doi.org/10.47208/sd.v27i1.2750Palavras-chave:
Racismo. Elite. Políticas afirmativas. Branquitude.Resumo
A elite, enquanto categoria relacional vinculada à branquitude, estrutura-se por meio do racismo. Neste sentido, esse estudo objetiva analisar os discursos da elite branca local de duas cidades do interior do Nordeste a partir das categorias de raça e de políticas públicas de reparação histórica. É uma chamada a refletir e a se debruçar sobre percepções elitistas e, principalmente, sobre as diferentes formas de racismo traduzidas em violência. A pesquisa tem um delineamento qualitativo, utilizando a técnica de entrevistas semiestruturadas com comerciantes e donos(as) de imóveis, totalizando a participação de oito interlocutores. Por meio da análise de conteúdo, foram evidenciados discursos racistas e meritocráticos acerca da população negra e das políticas de reparação. Com isso, identifica-se uma forte perspectiva colonial que se traduz em justificativas e práticas de discriminação a partir da invisibilização da violência histórica contra a população negra, mantendo e reproduzindo privilégios elitistas.
Downloads
Referências
ALBUQUERQUE, W. R. de. Uma história do negro no Brasil. Salvador: Centro de Estudos Afro-Orientais Brasília: Fundação Cultural Palmares, 2006.
ALMEIDA, S. L. de. O que é racismo estrutural? Belo Horizonte: Letramento, 2018.
ALVES, Z. M. M. B.; SILVA, M. H. G.F. D. Análise qualitativa de dados de entrevista: uma proposta. Paidéia, vol. 2, p. 61-69.
BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2010.
BARNABÉ, I. R. Elite, Classe Social e Poder Local. Revista Estudos de Sociologia. v. 4, n. 7, 1999. Disponível em: https://periodicos.fclar.unesp.br/estudos/article/view/384. Acessado em 12 de maio de 2019.
BENTO, M. A. S. Branqueamento e Branquitude no Brasil. In: CARONE; IRAY; BENTO, M. A. S. Psicologia Social do Racismo-Estudos sobre Branquitude e Branqueamento no Brasil. Petrópolis: Vozes, p. 25-58, 2002.
BERNARDINO-COSTA, J. Decolonialidade e interseccionalidade emancipadora: a organização política das trabalhadoras domésticas no Brasil. Revista Sociedade e Estado, v. 30, n. 1, pp. 147-163, 2015.
BOTTOMORE, T. B. As elites e a sociedade. Ed. Zahar: Rio de Janeiro, 1965.
BRASIL. Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 10 jan. 2003.
BRASIL. Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental n. 186 (Inteiro Teor do Acórdão). Tem como objeto o “sistema de reserva de vagas com base em critério étnico-racial (cotas) no processo de seleção para ingresso em instituição pública de ensino superior”. Brasília: STF, 2012. Disponível em: http://portal.stf.jus.br/processos/downloadPeca.asp?id=269432069&ext=.pdf. Acesso em: July 25, 2019.
CAMINO, L.; SILVA, P. da ; MACHADO, A. O. ; PEREIRA, C . A Face Oculta do Racismo no Brasil: Uma análise Psicossociológica. Revista de Psicologia Política, v. 1, p. 13-36, 2001.
CAMPELLO, T.; RODRIGUES, M.; SOUSA, M. F. Desigualdade racial: acesso a políticas universais na busca por equidade. In: CAMPELLO, T. (coordenação geral). Faces da Desigualdade no Brasil: um olhar sobre os que ficam para trás. Brasil: CLACSO/FLACSO/Agenda Igualdade, 2017.
CAMPOS, L. A. Racismo em três dimensões: Uma abordagem realista-crítica. Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP-UERJ), Rio de Janeiro – RJ, Brasil. 2017.
CARDOSO, L. A branquitude acrítica revisitada e as críticas. In: MULLER, T. M. P. M., &
CARDOSO, L. Branquitude: estudos sobre a identidade branca no Brasil. (p. 33-52). Curitiba: Appris, 2017.
CASTRO-GÓMEZ, S. Decolonizar la Universidad: La hybris del punto cero y el dialogo de saberes. En: CASTRO-GÓMEZ, Santiago; GROSFOGUEL, Ramón . El giro decolonial. Reflexiones para una verdad epistemica más allá del capitalismo global. Bogotá: Siglo del hombre Editores, 2007.
CONTINS, M.; SANT’ANA, L. C. O Movimento negro e a questão da ação afirmativa.
Estudos Feministas. IFCS/UFRJ-PPCIS/Uerj, v. 4, n. 1, p.209-220, 1996.
CROSBY, A.; LYKES, M. B. Beyond repair? Mayan women’s protagonism in the aftermath of genocidal harm. New Brunswick, NJ: Rutgers University Press, 2019.
FELIPE, D. A. Brasil – África: a formação docente para o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana como estratégia de uma educação antirracista. Revista Eletrônica de Educação,v.14, 1-15, e3372087, jan./dez. 2020.
FERREIRA, R. F.. O brasileiro, o racismo silencioso e a emancipação do afro-descendente. Psicologia e Sociedade, São Paulo, v. 14, n.1, p. 69-86, 2002.
FLICK, U. Desenho da Pesquisa Qualitativa. Porto Alegre, Artmed, 2009.
Fórum Brasileiro de Segurança Pública - FBSP. A violência contra negros e negras no Brasil. Disponível em: <http://forumseguranca.org.br/perfil/a-violencia-contra-negros-e-negras-no-brasil/> Acesso em de 15 Jan . de 2020
FRASER, M. T. D.; GONDIM, S. M. G. Da fala do outro ao texto negociado: discussões sobre a entrevista na pesquisa qualitativa. Paidéia, v. 14, n. 28, pp.139-152. 2004.
GOMES, N. L. Alguns termos e conceitos presentes no debate sobre relações raciais no Brasil: uma breve discussão. In: Ricardo Henriques. (Org.). Educação anti-racista: caminhos abertos pela Lei Federal no. 10.639/03. Ed. Brasília: SECAD/MEC, v. , p. 39-62, 2005.
GRYNSZPAN, M. A teoria das elites e sua genealogia consagrada. In: BIB - Revista Brasileira de Informação Bibliográfica em Ciências Sociais, n.41, Relume/Dumará, ANPOCS, 1996.
GROSFOGUEL, R. A estrutura do conhecimento nas universidades ocidentalizadas: racismo/sexismo epistêmico e os quatro genocídios/epistemicídios do longo século XVI. Revista Sociedade e Estado, v. 31, n. 1, p. 25-49, 2016.
GUIMARÃES, A. S. A. Racismo e Antirracismo no Brasil. 3 ed. Editora 34, São Paulo, 2009.
HEIZ F. M. Por outra história da Elite. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006.
HERINGER, R. Desigualdades raciais no Brasil: síntese de indicadores e desafios no campo das políticas públicas. Caderno Saúde Pública, Rio de Janeiro, 18(Suplemento): p. 57-65, 2002.
HUNTINGTON, S. A terceira onda: a democratização no final do século XX. São Paulo: Ática, 1994.
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA. Desigualdades raciais, racismo e políticas públicas: 120 anos após a abolição. 2008. Disponível em: <http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/4729/1/Comunicado_n4_Desigualdade.pdf>. Acesso em: 14 de Out.. de 2019
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA; Fórum Brasileiro de Segurança Pública - FBSP. Atlas da violência 2019. Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada; Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2019. Disponível em: <https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2019/06/Atlas-da-Violencia-2019_05jun_vers%C3%A3o-coletiva.pdf > Acesso em de 15 Jan . de 2020
KOLLER, S. H. Ethics in research with human beings: Some issues about Psychology. Ciência & Saúde Coletiva,v.13, p. 399-406, 2008.
LAVOR FILHO, T. L., BARBOSA, V. N. M., ALMEIDA SEGUNDO, D. S., MOURA JR., J. F., JANNUZI, P. M., & LIMA, R. S. Intersectional analyses from race and class: Fear of crime and authoritarianism in Brazil. Psicologia: Ciência e Profissão, 38(n.spe.2), 223–237, 2018.
LIMA, M. E. O; NEVES, P. S. C; SILVA, P. B. E. A implantação de cotas na universidade: Revista Brasileira de Educação. v. 19 n. 56 jan.-mar. 2014.
LIMA, M. E. O.; VALA, J. As novas formas de expressão do preconceito e do racismo. Estudos de Psicologia, v. 9, n. 3, p. 401-411, 2004.
LÓPEZ, L. C. O conceito de racismo institucional: aplicações no campo da saúde. Comunicação Saúde Educação. v.16, n.40, p.121-34, jan./mar. 2012.
MACHADO, E. G.; LIMA, E.; FURTADO, O. Urbanização e desafios à política urbana em pequenas cidades: o caso de Redenção, Ceará, no contexto de implementação da UNILAB. Políticas Públicas e Cidades, v. 5, n. 1, jul. 2017.
MAIA, S. A branquitude das classes médias: discurso moral e segregação social. IN: MULLER, T. M. P. M., & CARDOSO, L. Branquitude: estudos sobre a identidade branca no Brasil. (p. 107-124). Curitiba: Appris, 2017.
MAIA, K.; ZAMORA, M. H. N. O Brasil e a Lógica Racial: Do branqueamento à produção de subjetividade do racismo. Psicologia Clínica., Rio de Janeiro, vol. 30, n.2, p. 265 – 286, 2018
MELLO, Luiz; RESENDE, Ubiratan Pereira de. Concursos públicos federais para docentes e ações afirmativas para candidatos negros. Cadernos de Pesquisa, v. 50, n. 175, p. 8-29, Mar. 2020 .
MILLS C. W. A Elite do poder. 4 ed. Zahar Editores, Rio de Janeiro, 1981.
MINAYO, M. C. S.; SANCHES, O. Quantitativo-Qualitativo: Oposição ou Complementaridade? Cadernos de Saúde Pública,v.9, n.3, 239-262, 1993.
MOEHLECKE, S. Ação Afirmativa: história e debates no Brasil. Cadernos de Pesquisa, n. 117, novembro/ 2002.
MOURA, J.F., ALMEIDA SEGUNDO D.S., BARBOSA V.N.M. The Stigmatization of Poverty as a Basis of the Class Prejudice and Its Psychological Consequences. In: Ximenes V., Moura Jr. J., Cidade E., Nepomuceno B. (eds) Psychosocial Implications of Poverty. Springer, Cham, 2019.
NUNES, S. S. Racismo no Brasil: Tentativas de disfarce de uma violência explícita. Psicologia USP, 17(1), p. 89-98, 2006.
PARETO, V. As elites e o uso da força na sociedade. In: Sociologia política. Rio: Zahar, 1966.
PAULA, C. R. de. Magistério, reinações do feminino e da brancura: a narrativa de um professor negro. In: ROMÃO, J. (Org). Histórias da Educação do Negro e outras Histórias. MEC: Brasília, 2005. Disponivel em: <http://etnicoracial.mec.gov.br/images/pdf/publicacoes/historia_educacao_negro.pdf>. Acesso em: 12 de Ago. de 2019
PERRONI, J; BRANDÃO, A. Seleção ou Exclusão: difícil acesso a instituições públicas de ensino. Educação & Realidade, vol. 34, núm. 1, enero-abril, p. 65-81, 2009.
QUIJANO, A. Colonialidad y Modernidad-Racionalidad. In: Bonilla, Heraclio. Los Conquistados: 1492 y la población indígena de las Américas. Bogotá: Tercer Mundo, 1992.
RIBEIRO, D. O que é lugar de fala? Belo Horizonte: Letramento Justificando, 2017.
SANTOS, B. S. O Fim do Império Cognitivo: As Afirmações das Epistemologias do Sul. Ed. 1. Belo Horizonte: Autêntica, 2019.
SCHUCMAN, L. V. Sim, nós somos racistas: estudo psicossocial da branquitude paulistana. Psicologia & Sociedade, 26(1), 83-94, 2014. < https://dx.doi.org/10.1590/S0102-71822014000100010>
SCHWARCZ, L. M. Sobre o autoritarismo brasileiro. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
SCRIPTORI, C. C.; JUNIOR, J, F, B. Discriminação e preconceito como fatores de
violência e atitudes docentes como fator de promoção de resiliência na escola.
Educação, Santa Maria, v. 35, n. 3, p. 431-448, set./dez. 2010.
SILVA L. T. Uma análise comparativa dos conceitos de subalternidade e racialidade. Temáticas, Campinas, 23, (45/46): 127-154, fev./dez. 2015.
SLIFE, B.D.;WILLIAMS, R.N.O Que Existe Por Trás da Pesquisa. Sage: Londres,1995.
SOUZA, J. A Elite do Atraso: Da Escravidão à Lava Jato, São Paulo: Editora Leya, 2017.
SOUZA, H. R. C. O mal-estar da masculinidade negra contemporânea. Research, September, 2017. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/320024784>. Acesso em 13 de março de 2020.
SPIVAK, G. C. Pode o subalterno falar? Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010.
UNIVERSIDADE DA INTEGRAÇÃO INTERNACIONAL DA LUSOFONIA AFROBRASILEIRA (UNILAB). Estatuto Geral da UNILAB. Redenção: UNILAB, 2018. Disponível em: http://www.unilab.edu.br/wp-content/uploads/2018/01/Estatuto-da-Uni versidade-da-Integra%C3%A7%C3%A3o-Internacional-da-Lusofonia-Afro-Brasileira-a provado-pela-resolu%C3%A7%C3%A3o-42_2016-e-alterado-pelas-resolu%C3%A7% C3%B5es-332017-e-34_2017.pdf. Acesso em: 11 mar. 2019.
XIMENES, V.M.;MOURA JR., J. F. Psicologia comunitária e comunidades rurais do Ceará: caminhos, práticas e vivências em extensão universitária. In: LEITE, J.F.;DIMENSTEIN, M.(Orgs.), Psicologia e contextos rurais.(Vol. 1, pp. 453-476). Natal: EDUFRN, 2013.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2020 James Ferreira Moura Jr, Antonio Ailton de Sousa Lima, Francileuda Farrapo Portela
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.
